supsystic_tables
domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init
action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home1/gerinu07/www.cimento.org/wp-includes/functions.php on line 6114Desde o início do século XX, a luta pela independência econômica, pelo direito a um desenvolvimento autônomo, livre das imposições dos grandes grupos de interesses multinacionais, deixou marcas profundas na vida da maioria das nações. No Brasil há um caso dessa luta que, na verdade, confunde-se com o surgimento e a evolução da indústria brasileira. É a história de um dos maiores empresários brasileiros, José Ermírio de Moraes, falecido em 1973, criador do Grupo Votorantim, o maior do país. Em 1940, José Ermírio decidiu lançar-se no ramo de alumínio, ainda não produzido no país. No ano seguinte surgia a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) financiada com os lucros obtidos em outras empresas de Ermírio de Moraes, principalmente na área de cimento, setor onde já entrara em atrito com poderosos grupos internacionais.
Com a CBA, porém, as dificuldades tornaram-se maiores. Não se produzia alumínio no país e as vendas no mercado brasileiro eram controladas por dois gigantes da economia internacional; Alcoa (norteamericana) e Alacam (canadense). Essas duas empresas faziam parte do cartel das “seis irmãs” do alumínio, formado em 1901, quando dividiram entre si o controle das jazidas, da produção e do comércio mundial dese minério, estratégico.na.industrialização.moderna.
A primeira grande dificuldade da CBA foi na compra do equipamento para a fábrica. Feito praticamente sob encomenda das “seis irmãs”, José Ermírio não conseguiu comprá-lo em nenhuma das suas montadoras habituais,certamente.por.boicote.daqueles.trustes.
A solução para o impasse veio com a sorte: na Itália, os proprietários de uma instalações já prontas para uma fábrica de alumínio não tinham recursos para colocá-la em funcionamanto. Era a “providência divina”, diria anos depois um biógrafo do empresário. Junto com o equipamento José Ermírio “importou” dois engenheiros italianos,para.implantá-lo.no.Brasil.
Os problemas não terminaram ai. A Light, detentora do monopólio de fornecimento de energia elétrica no país e também canadense como a Alcam, recusou-se a fornecer energia. “Na época em que mais precisamos dessa energia, a Light, or razôes tremendamente maldosas e com intuitos outros, a recusou (…) e assim tivemos que reconstruir nós mesmos as usinas. Não fora sua construção (…) e a CBA seria hoje apenas uma empresa fechada”, diria anos mais tarde José Ermírio de Moraes Filho, um dos herdeiros do empresário.
Com a recusa da Light, no entanto, José Ermírio de Moraes pulou o obstáculo com fôlego suficiente para mais uma proeza: construiu ele próprio sua hidrelétrica. E continuou a fazer usinas, tornando o seu grupo, em 1984, o maior produtor privado de energia elétrica do país.
Em 1949, finalmente, a CBA começou a ser montada. Seis anos depois, em 1955, entra em funcionamento.
Derrotadas nas primeiras batalhas, as “duas irmãs” do alumínio voltariam a carga. Em 1951, a Alcam passou a produzir alumínio no Brasil, inicialmente com poucos investimentos. Acelerou sua produção, porém, para acompanhar a CBA. A Alcoa demorou mais: estabeleceu-se com grande investimento de capital em 1970
A instalação da CBA foi a consolidação do império Votorantim. A história do grupo, porém, começa em 1924, quando o pernambucano José Ermírio de Moraes assumiu a administração de uma fábrica de tecidos, então de propriedade de seu futuro sogro, Antônio Pereira Ignácio, um imigrante português. A fábrica Votorantim havia sido montada em 1904 pelo Banco União de São Paulo, que, em 1890, comprara o terreno na cidade paulista de Sorocaba. Nessa época, o ministro da fazenda Rui Barbosa, colocou em prática um sistema de financiamento que permitiu a estabelecimentos bancários, como o Banco União, emitir dinheiro contra certas garantias. Rui imaginava com isso ajudar no financiamento da nascente indústria nacional. Na crise de 1917 porém, o União foi a falência e no ano seguinte, a fábrica foi vendida ao imigrante português.
No princípio da década de 30, a Votorantin restringia-se ainda a indústria têxtil. Era uma pequena empresa. Tinha apenas um modesto escritório em São Paulo. A partir daí começa a diversificar seus produtos, com base principalmente na política de substituições de importações do Estado brasileiro, adotada devido a crise de 1929, quando o sistema financeiro internacional estava fechado. A Votorantin, então, expandiu seus negócios, reinvestiu lucros. Os lucros nos tecidos pagaram o investimento em um novo ramo, o cimento, em 1936. No final dos anos 30, novos re-investimentos permitem o ingresso também nos setores de química, siderurgia.e.vários.outros.
Durante a Segunda Guerra Mundial, há novo prosseguimento da política de substituições de importações com o enfraquecimento da dominação internacional. A Votorantin ingressa, então, nos setores de mecânica e de máquinas, como a metalúrgica Atlas, montada em São Paulo, em 1944, que acabou produzindo equipamentos.para.acionar.as.outras.indústrias.
A estratégia de independência permitiu à Votorantin enfrentar com relativo sucesso um obstáculo fundamental: a transferência de tecnologia, uma das mercadorias mais cartelizadas e um dos esteios de apoio da dominação econômica.para tornar-se o primeiro e único produtor nacional de níquel eletrolítico – outro setor estratégico onde a empresa penetrou nos anos 50 – precisou trocar o petróleo por carvão vegetal, muito mais barato e mais acessível. Na Companhia Mineradora de Metais, criou-se ainda uma tecnologia de carvão vegetal para o zinco que é a única no mundo. A matéria-prima para esse combustível exigiu investimentos em reflorestamento. A Votorantin tinha, nos anos 80, cerca de 200 milhões de árvores plantadas.
Desde o início do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP), José Ermírio participou ativamente da política empresarial. Fez parte de sua primeira diretoria, em 1928, ao lado do conde Francisco Matarazzo, Jorge Street e outros grandes empresários brasileiros. Na década de 60, é atraído para a política partidária. Torna-se membro do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Em 1962, elegeu-se senador por Pernambuco. Em 1963, participou brevemente do governo de João Goulart, dirigindo o Ministério da Agricultura.
Por seu passado de luta, José Ermírio de Moraes não teria boas relações com o regime pós 64, quando ruíram as conquistas do passado, principalmente com relação à dominação externa da economia brasileira. sua tradição foi apenas parcialmente seguida pelos filhos. Antônio Ermírio de Moraes, o mais famoso deles, é considerado a maior liderança entre os empresários brasileiros, mas não se dedica a política empresarial aberta: não se candidata à Federação das Indústrias; dedica-se antes à beneficência. Adota, contudo, certo estilo oposicionista, que lembra o pai. Na campanha eleitoral de 1984 atacou abertamente o candidato presidencial mais direitista, Paulo Salim Maluf. Já seu irmão, José Ermírio de Moraes Filho, tem posição oposta. O estudioso americano André Dreyfuss o incluiu na lista dos muitos industriais brasileiros que colaboraram com o IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática), organização reacionária e pró americana na época do golpe. Em 1984 José Ermírio apoiou o candidato direitista: Maluf. Seu pai, no entanto, combateu ativimente a inclinações antinacionalistas adotadas pelo regime implantado em 1964. Denunciou veementemente a derrubada, em 1966, da lei que protegia as reservas minerais. Alertou em 1965, para a ameaça do endividamento externo: “O país precisa examinar com todo o cuidado o assunto. Se não o fizer, dentro em pouco estará com suas dívidas aumentadas de tal forma que não terá recursos para pagar os juros e.os.dividendos.do.investidor.estrangeiro.”
Em 1984 – quando o país passou a trabalhar quase que apenas para pagar os juros e os lucros dos empréstimos e investimentos estrangeiros no Brasil -, quem se lembrasse desse discurso o acharia profético.
Esse texto foi publicado em Retratos do Brasil, páginas 83 e 84, da Editora Política, em 1985, publicação dirigida por Mino Carta. Seu título original é “Ermírio e as seis irmãs”