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Consumo de cimento cai pela primeira vez em uma década.

Consumo de cimento cai pela primeira vez em uma década.

A indústria brasileira de cimento vai viver em 2015 seu primeiro ano de retração nas vendas e no consumo do produto desde 2004 – aquele ano foi o fundo do poço. A expectativa do setor é que a queda na demanda, decorrente do esfriamento da economia do país, será no patamar de dois dígitos. Para alguns executivos, poderá ficar entre 10% e 12%; para outros, poderá até alcançar 15%, caso seja mantido o desempenho do primeiro semestre.

 O ano passado, com um magro aumento de 1% na comparação com 2013, foi o último do período de bonança que se verificou nessa indústria a partir de 2005. O setor foi impulsionado pela capitalização das empresas do ramo imobiliário, pela oferta de crédito a taxas de juro favoráveis, pela expansão do emprego e da renda, além da diminuição da taxa Selic, entre outros fatores.

 O Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) acabou de divulgar os dados de vendas e consumo aparente de dezembro, bem como o total de 2014.

Venda de Cimento – Dados dezembro de 2014  em 1000 Ton –
    Origem do Despacho 2013 2014 Jan-dez/14
Jan-dez Jan-dez Jan-dez/13
Norte 3.539 3.430 -3,1%
Nordeste 14.407 15.432 7,1%
Centro-Oeste 8.271 8.561 3,5%
Sudeste 33.383 33.097 -0,9%
Sul 10.340 10.366 0,3%
Venda Merc. Interno 69.940 70.886 1,4%
Exportação 22 30 36,4%
Venda Total 69.962 70.916 1,4%

Os números referentes ao período janeiro a junho deste ano ainda não são oficialmente conhecidos, pois o SNIC, que reúne os fabricantes de cimento no país, só está autorizada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) – em decisão do ano passado – a divulgar dados da indústria cimenteira com defasagem mínima de seis meses.

 “Os números ora divulgados por este tradicional e importante indicador mensal de atividade pouco têm a mostrar sobre o comportamento atual do mercado”, afirmou, em nota, o SNIC. “As condições de hoje são totalmente diferentes de seis meses atrás, pois enfrentamos um cenário de forte retração da economia do país”, observa José Otávio de Carvalho, presidente executivo da entidade.

 Os números preliminares de dezembro e de 2014 indicam que as vendas internas de cimento foram de 70,9 milhões de toneladas, com crescimento de 1,4% em relação a 2013. Já as importações no mesmo período, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), tiveram queda de 20,4%, com 817 mil toneladas. O consumo aparente somou 71,7 milhões de toneladas, expansão de 1% em relação ao ano passado.

 Dezembro pode ter sido também o último mês de aumento das vendas – os dados de lá para cá não são conhecidos. Conforme o SNIC, foram comercializadas pela indústria no mercado interno naquele mês 5,2 milhões de toneladas. Esse volume significou alta de 2,9% em relação a igual mês de um ano antes.

 “Em dezembro de 2014, as vendas de cimento ainda indicavam algum crescimento. Hoje, entretanto, diversos outros indicadores apontam para uma realidade absolutamente diversa, com acentuada deterioração do setor da construção civil”, diz nota do SNIC.

snic

 Na avaliação de Carvalho, o setor enfrentará neste ano “uma queda violenta de vendas e consumo“. Desde 2004, quando o atingiu 35,7 milhões de toneladas, o consumo do país dobrou, ao bater em 71,7 milhões de toneladas em 2014. Sem reversão do cenário no curto e médio prazos, até o fim de 2016 a previsão é que as cimenteiras vão enfrentar dois anos de decréscimo nas vendas, afirma o executivo.

O consumo poderá cair ao patamar de 60 milhões de toneladas no fim de 2016. Com isso, o setor enfrentará elevado nível de ociosidade nas fábricas. A capacidade de produção no início do ano era estimada em 90 milhões de toneladas. Mais cerca de 10 milhões de toneladas devem ser jogadas no mercado ainda neste ano.

Segundo o executivo, todos os fundamentos que estimularam a expansão do consumo no país a partir de 2005 foram para o ralo.

“O atual cenário traz uma conjunção do ajuste econômico lançado pelo governo com os efeitos da operação Lava-Jato [da Polícia Federal, que investiga pagamentos propinas por empreiteiras em contratos de obras da Petrobras]”, diz Carvalho. O impacto, aponta, foi drástico para o setor da construção (área de infraestrutura), para construtoras e empreiteiras e para empresas terceirizadas, levando a alto nível de desemprego nesse setor.


Valor Econômico – Por Ivo Ribeiro – São Paulo

Postado em:
4 jul 2015 às 05:21hs
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