By Mara Bianchetti – Diário do Comércio
Com Adaptação: Cimento.Org
Com sede em Zurique, líder mundial na produção de cimento e outros materiais de construção, a LafargeHolcim está iniciando o processo de saída do Brasil com a venda de suas operações locais. Segundo fontes do setor, o grupo franco-suíço contratou o banco Itaú BBA e outros assessores financeiros para ajudá-los a encontrar os compradores ideias para os ativos que opera no país.
Mas LafargeHolcim disse que não comentaria o assunto. Caso confirmem a notícia, publicada inicialmente pelo Jornal Diário do Comercio de Minas, a cimenteira fará parte de uma lista de grandes multinacionais que têm deixado o Brasil nos últimos anos. Como resultado, há uma onda de empresas saindo do País, sob argumentos relativos à competitividade e ao ambiente de negócios em terras brasileiras.
A Sony anunciou o fechamento da indústria na Zona Franca de Manaus, a Ford, Audi e a Mercedes estão em busca de novos mercados, a Roche já havia comunicado o encerramento das atividades em 2019. Da mesma forma e no mesmo segmento da gigante mundial, a cimenteira irlandesa CRH, que era dona de algumas plantas da Lafarge e da Holcim, antes da fusão, também deixou o Brasil no final de 2020. A CRH vendeu todas as suas plantas para a CNC- Companhia Nacional do Cimento, que é uma parceria entre o grupo italiano Buzzi e o Grupo pernambucano Ricardo Brennand.
Empregos em risco
De acordo com o presidente da Feticom-MG e do Sindicato de Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), Wilson Geraldo Sales da Silva, o cenário é incerto. Nem mesmo o setor de Recursos Humanos das unidades sabe o que vai acontecer, ou fornece qualquer informação. Para ele, o negócio já está encaminhado e deverá ser anunciado nos próximos meses.
Também o diretor da Feticom-MG e presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Barroso, João Luiz Aparecido Silva, demonstrou preocupação com os funcionários, por não saber quem serão os compradores, qual tipo de relacionamento os novos donos terão como os mais de 1600 empregados no Brasil. Preocupa-se também com a possível morosidade do CADE. Segundo ele, se o órgão não autorizar rapidamente da venda, a multinacional pode paralisar suas operações e demitir todo pessoal.
“O cenário não ajuda, o País não tem uma governança séria, que norteie os negócios e todos ficamos dependentes de uma política econômica que não sabemos onde vai dar. Por isso, tantas multinacionais estão saindo daqui. No caso da LafargeHolcim, as operações colombianas lucraram bem mais que as brasileiras, mesmo aquele país sendo bem menor”, exemplificou João Luiz Aparecido.
A venda das operações locais, nos planos atuais da LafargeHolcim, não será o primeiro passo da gigante global para reduzir sua exposição ao mercado brasileiro. Em 2015, o grupo antes da fusão, vendeu ativos avaliados em cerca de US$ 350 milhões para o grupo irlandês CRH, diminuindo consideravelmente seu porte no Brasil. Hoje, com cerca de 1.600 empregados, a LafargeHolcim Brasil tem forte presença no País, sendo o terceiro grupo no ranking nacional em capacidade instalada, perdendo apenas para Votorantim Cimentos e para a InterCement, do Grupo Camargo Corrêa.
Não existe, ainda, especulações de quais players poderão assumir as operações brasileiras da LafargeHolcim. Sequer se aparecerão interessados no negócio. O mercado cimenteiro, embora com um bom e inesperado crescimento em 2020, bem como, com “resultados razoáveis” no primeiro trimestre de 2021, não diminuem as incertezas quanto ao futuro desse mercado, que é extremamente sensível aos resultados da economia, aos investimentos em infraestrutura, às taxas de juros, aos financiamentos imobiliários, às taxas de desemprego e, até mesmo, aos efeitos da drástica redução no valor do auxílio emergencial. Tudo isso, somados ao momento de instabilidade política, pandemia e mesmo proximidade de eleições majoritárias no país, pode desencorajar investidores e, quem sabe, postergar o desembarque do grupo franco-suíço do solo brasileiro.
